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segunda-feira, 25 de maio de 2020

DISCURSO DE POSSE DA NEO ACADÊMICA SONIA MARIA CARNEIRO ALBUQUERQUE

Prezado Dr. Oscar Luiz de Moura Lacerda, Vice- Presidente da Academia de Letras e Artes de Ribeirão Preto;
  Doutora Eliane Ratier, Secretária;
  Senhora Norma Luzano Campaz, Paraninfa;
  Autoridades presentes;
  Meus familiares;
  Senhoras e senhores,
  É com grande emoção que venho aqui à frente, nesta noite solene e festiva, agradecer a indicação e aprovação de meu nome para compor o quadro de titulares da Academia de Letras e Artes de Ribeirão Preto.
  É uma honra fazer parte desta distinta Academia, composta, desde a sua fundação em 1981,por escritores,poetas,artistas plásticos,músicos, cantores líricos,enfim ,por artistas das mais variadas vertentes.Todos de valor incontestável e irmanados pelo ideal de levantar a bandeira da cultura, qual seja:fazer Arte, valorizar a Arte e divulgá-la,”num trabalho dirigido para o Bem Comum.”(1)
  Alem de ser uma honra, grande é a responsabilidade, já que o corpo de acadêmicos,de inestimável valor,nos inspira e nos exige um convívio criador e produtivo,responsabilidade esta a que me empenharei em corresponder.
 
  Neste momento rendo homenagem à artista plástica Célia de Figueiredo Palma Assalin, conhecida nos meios artísticos,como Célia Palma, última
ocupante da Cadeira 60,que ora passo a ocupar.
  Com cinco diplomas universitários, era formada em Direito,Letras,Estudos Sociais,Pedagogia e Psicologia e foi descoberta como artista plástica por ninguém menos que  o renomado  artista  Francisco Amêndola (1924-2007),que muito a incentivou.
  Nascida em Altinópolis,em 1940 ,recebeu o título de Cidadã Ribeirãopretana e foi casada aos dezessete anos, em primeiras núpcias,com Nicolau Spinelli,com quem teve cinco filhos.Posteriormente casou-se, em segundas núpcias ,com Antonio Carlos Assalin.
  Célia Palma participou de inúmeras exposições, recebeu prêmios aquisitivos e foi uma das artistas selecionadas para homenagear São Paulo no seu aniversário de quatrocentos e cinquenta anos.
  Foi co-fundadora do Ateneu e das Faculdades Barão de Mauá.
  Após sua descoberta como artista plástica em 1995, dedicou-se obstinadamente à arte,obtendo grande reconhecimento.
  Expôs pelo Brasil e também no exterior.
  Segundo avaliação de Amêndola, Célia Palma provou ser “um grande talento (...) arrojada, original,destacando-se dos outros e sabendo se expressar com harmonia e de acordo com sua época.”
  Célia Palma nos deixou em março deste ano. A ela toda a minha admiração e respeito.
  Passo agora à figura instigante do meu Patrono, Leopoldo Lima.
  Originário de São Simão,nascido em 1933,foi casado com a senhora Cleusa Baptistetti e teve cinco filhos.Trabalhou como marceneiro e destacou-se nas artes usando a madeira como suporte, entalhando-a, e fazendo uso do pirógrafo para criar obras primas eternas, de rara força e expressividade. Retratou o sofrimento humano apresentando em seus trabalhos crianças magras, casas com labirintos, árvores retorcidas.Seu autorretrato é uma constante em suas obras, assim como o girassol, talvez por representar o amor,a esperança.
  “Questionador, tratado por vários amigos como idealista e sonhador “(2) era adepto de uma vida “original, conceitual”, de acordo com o artista Miguel Angelo Barbosa,que  partilhou de sua amizade.
  Não gostava de vender seus trabalhos, porque ”cada obra era parida com dor “,em suas próprias palavras.
  Por suas características físicas foi comparado ao pintor holandês Van Gogh(1853-1890):ambos magros,de barba e cabelos ruivos,olhos claros.
  Era um artista intenso que ficava imerso em seu trabalho por longos períodos, sem se aperceber do passar do tempo.
  Gostava de expor nas praças e foi o criador de um varal artístico entre uma árvore e outra para exibir suas obras.
  Participou de mostras individuais e coletivas.
  Com a venda de um de seus quadros, intitulado ”Decadência”, lançou em 1969, sua autobiografia, levada posteriormente aos palcos por Fauzi Arap, 
dramaturgo, diretor e ator de teatro.
  Seu livro é escrito sem o uso de quaisquer convenções gramaticais: não há letras
 maiúsculas, pontuação ou acentos, num fluxo ininterrupto de consciência. Seu texto descreve todo o “vigor criativo e a irreverência” (3) que lhe são característicos. Relata sua vida e criação, sendo fonte riquíssima para a compreensão do seu viver e do seu criar.
  Após a sua morte foi homenageado pelo MARP, Museu de Arte de Ribeirão Preto, que deu o seu nome à biblioteca, que se localiza no piso térreo do próprio museu. Foi também homenageado pelo SESC, Serviço Social do Comércio.
  Em Bonfim Paulista há um museu com seu nome e que “preserva a História da Arte e do Trabalho”.(4)
  Leopoldo Lima é até hoje lembrado como um dos símbolos de uma geração considerada “marginal”, mas que na verdade era formada por artistas sensíveis e cheios de talento.
   Ele dizia que “a obra de arte boa é aquela que retrata as pequenas coisas” e, ao ser perguntado em como se descobriu artisticamente, respondeu que “estava à beira de um abismo(...) do outro lado estava a esperança, a flor, simbolizando tudo, mas como atingi-la?”
  A arte era a sua salvação, e a queria para todos, não só para as elites artísticas.
  Faleceu em 23 de junho de 1996, deixando um acervo de extraordinária força, expressão e liberdade criativa.
  Homenageamos nesta noite este artista visceral, o Imortal Leopoldo Lima, Patrono da Cadeira de número 60 e a também Imortal Célia Palma, última ocupante da mesma Cadeira.
  A ambos peço seus calorosos aplausos.
  Obrigada.
  
(1) José Pedro Miranda in ESTATUTO DA ALARP.
(2) Jornal FOLHA DE SÃO PAULO – Artigo de Gabriela Yamada,2012.
(3) Catálogo do SESC ,quando de sua homenagem a Leopoldo Lima.
(4) Plataforma Verri
Fontes :
-“729-o varal biográfico embananado”,de LEOPOLDO LIMA
-Página do Facebook do artista.
-Blog do artista Miguel Angelo Barbosa
-e referências citadas acima.
Sobre Célia Palma Assalin, consultei texto da Acadêmica Vera Regina Gaetani,à disposição na sede da ALARP.
**Observações posteriores à Posse:
   Houve um improviso sobre a artista Célia Palma, quando mencionei uma visita à casa dela e de seu marido quatro dias antes da cerimônia .Expliquei que foi um privilégio poder conhecer  sua morada , seu atelier, várias de suas obras e me envolver de tal maneira em sua atmosfera que em verdade me emocionei às lágrimas.
**Outra observação: A Presidente não pode presidir a cerimônia por motivo de saúde de seu marido .
** Os representantes do Imortal Leopoldo Lima não aceitaram comparecer e o marido da Imortal Célia Palma teve uma  imprevista viagem a São Paulo ,que o impossibilitou de comparecer.

Sonia Maria Carneiro de Albuquerque
Outubro de 2018

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