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domingo, 15 de novembro de 2020

Patrono Bassano Vaccarini - cadeira 66 - Edgar de Castro Cardoso

  

Todo o artista é um ser intuitivo, com faculdades supranormais. Por isso, podemos afirmar que sempre existirá o intérprete subtil e mágico da natureza, e dos profundos e eterno anseio da humanidade. E esse poder de intuição – ou força intuitiva – uma como revelação mágica de substância desconhecida é que torna o homem predestinado criador, mais próximo de Deus do que dos seus semelhantes (VACCARINI, 1962). 


Os trabalhos deste artista italiano, nascido em 9 de agosto de 1914, em San Colombano al Lambro, na província de Milão, impressionam pelo montante e pela qualidade.  Atuando de maneira intensa como artista e educador, Bassano Vaccarini deixou sua marca indelével em vários campos das artes. 

Quando jovem, aproveitava as férias escolares para ajudar artistas em sua cidade natal. Como resultado desta aproximação, aos 12 anos esculpiu sua primeira obra: "Diógenes". Logo depois, em 1929, Bassano ingressou no Liceu Artístico de Milão, dando início a uma educação formal em Artes, que continuou em 1932, num ateneu público, a Accademia di Belle Arti di Brera, também em Milão. Esta escola é uma das mais antigas da Itália, ainda em funcionamento. Em 1934 esteve na Scuola d'Arte di Villa Reale in Monza, onde fez aulas com Marino Marini, importante escultor, falecido em 1980. Durante o seu processo de formação, já se consagrava como o melhor escultor jovem italiano, com o prêmio “Tantardini”, em Milão, em 1935. No mesmo ano expôs com o grupo Futurista de Gênova.

No final dos anos de 1930 ele mostrava a sua veia combativa, fazendo parte do “Movimento di Corrente”. Inicialmente, uma revista fundada em 1938, por Ernesto Treccani, que se tornou um grupo intelectual complexo, com vários componentes estéticos e políticos. Reuniu pintores, escultores, filósofos, literatos, entre outros, alguns dos quais ganharam destaque na cena pública italiana depois da Segunda Guerra Mundial. Além de Bassano Vaccarini, participavam do “Corrente”, Renato Guttuso (pintor expressionista, que se tornou senador pelo Partido Comunista Italiano), Salvatore Quasimodo (vencedor do Prêmio Nobel de Literatura, em 1959), Bruno Cassinari, Ennio Morlotti, Aligi Sassu e Giuseppe Migneco. 

O movimento foi definido por Antonio Banfi como: 

L’arte vuol vivere la vita e la vita è una cosa sola con la libertà: libertà intima di sviluppo, possibilità di dare a se stessa le proprie norme, i propri problemi, i propri contenuti e le proprie forme. Da questa libertà assoluta dipende la possibilità di scoprire e consacrare in lei la poeticità della nostra vita (La Biblioteca di via Senato. Milano. N. 3 Marzo, 2011).

Com o fim da revista, em meados de 1940, a Bottega degli artisti di Corrente continuou organizando algumas exposições e catálogos com o nome de Galleria dela Spiga e di Corrente. Mostras com Santomaso, Hiero Prampolini, Angelo Savelli, De Felice, Bartolini e Maccari passaram pela galeria. Em março de 1943, durante uma mostra de Vedova, a política italiana fechou a Bottega, colocando fim ao movimento. Depois de participar da Bienal de Veneza, em 1942, no mesmo ano do fechamento do “Corrente”, em 1943, Vaccarini entrou no curso de especialização em escultura, na Escola de Arte de Genebra, Suíça.

Bassano chegou ao Rio de Janeiro em 1946. Juntamente com Aligi Sassu e Giuseppe Migneco formavam os “Novos de Milão”, grupo remanescente do “Movimento di Corrente”. De acordo com Miguel Sanches, a exposição teve uma boa repercussão, prova disto são as reproduções das obras em periódicos, como a Revista Joaquim, de Curitiba.

 Após um tempo no Rio, Bassano foi para São Paulo, onde passou a residir e trabalhar como cenógrafo, figurinista e diretor técnico da Cia. de Teatro Bela Vista e Cia. de Teatro Silveira Sampaio. Na capital, fez parte do grupo ODA – Oficina de Arte, juntamente com Frans Krajcberg, Bruno Giorgi e outros. Além disto, integrou a equipe técnica do Teatro Brasileiro de Comédia, TBC, tornando-se assistente de Aldo Calvo, com quem dividiu a autoria de vários cenários. 

Nos próximos anos ele acumulou as atividades de cenógrafo, escultor e pintor. Em 1947, recebeu três prêmios importantes: 1º Prêmio de escultura do Salão do Sindicato de Artistas, o 2º Prêmio em Pintura da Exposição Circulante do Governo de São Paulo e o 1º Prêmio em escultura do Salão de Belas Artes de São Paulo. Em 1948, na Espanha, conquistou o 1° Prêmio do Concurso Internacional Monumento ao Padre Anchieta. Recebeu, ainda, os prêmios de melhor cenógrafo do ano, em 1953 e 1954, em São Paulo e Rio de Janeiro.

Entre 1951 e 1955 lecionou a disciplina de Plástica na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo – FAU/USP. Fundada em 1948, a FAU originou-se do antigo curso de engenheiro-arquiteto da Escola Politécnica. Nos primeiros anos o curso associava disciplinas técnicas, lecionadas por engenheiros, com elementos do currículo padrão da Escola Nacional de Belas Artes, organizados em componentes curriculares ministrados por artistas plásticos, como plástica, modelagem, arquitetura de interiores, grandes e pequenas composições.

Foi convidado, juntamente com Jaime Zeiger, pelo Prefeito de Ribeirão Preto, Costábile Romano, para planejar e executar os pavilhões destinados à Exposição Comemorativa do Centenário da Cidade, em 1956. Depois de atuar neste projeto, Vaccarini passou a residir no município, sem, entretanto, deixar de participar do circuito de exposições de São Paulo.

Usando sua experiência de docência no ensino superior, ao lado de Domenico Lazzarini e outros, fundou a Escola de Artes Plásticas de Ribeirão Preto, em 1957. Dentro desta instituição organizou a Escola de Arte Dramática, em 1964. Nesta fase, também atuou como professor de cenetécnica e cenografia em vários cursos organizados em Ribeirão Preto, além de lecionar Artes Plásticas no Ginásio Vocacional de Batatais (1962).

Já reconhecido como escultor e pintor, os anos de 1960 consagraram Bassano Vaccarini em outra área: o cinema, na qual ele se destacou como pioneiro na animação para o cinema no Brasil. Bassano foi cofundador do CEC – Centro Experimental de Cinema da Escola de Artes Plásticas de Ribeirão Preto, em 1960, onde atuou como diretor. Além disso, alguns anos mais tarde, participou do grupo que criou o Ateliê Onze Zero Quatro, importante ponto de encontro dos artistas locais.

Observa, ainda, o historiador da arte, Prof. Teixeira Leite, que até meados da década de 1960, ele dedicou-se a executar composições abstratas, retomando, mais recentemente, a figuração em suas pinturas, apresentando afinidades com o expressionismo. Em algumas das suas esculturas, trabalhou também com formas orgânicas, abstratas, combinadas a elementos figurativos (LEITE, 1988, p. 516).

Incansável, seria a palavra para definir o artista Vaccarini. Com 55 anos de idade entrou para o curso de Pedagogia, na Universidade de Ribeirão Preto, graduando-se em 1972.

Ao participar da Coletiva “Um século de Escultura”, no MASP, em 1982, mais uma vez a obra de Bassano recebeu reconhecimento nacional. Naquele mesmo ano, a prefeitura de Altinópolis, SP, convidou o escultor para executar obras de arte em logradouros públicos do município. Dez anos depois foram apresentados ao público sete painéis em concreto, no Jardim de Esculturas "Dr. Ulysses Guimarães”.

Entre 1993 e 1997, durante o governo do Prefeito Antonio Palocci Filho, Vaccarini foi contratado para esculpir as obras no Parque Ecológico Maurílio Biagi. Em 1994 convidou o arquiteto Elias Alfredo Filho para trabalhar ao seu lado. O projeto original era de doze esculturas, mas, a sua demissão pelo Prefeito Luiz Roberto Jábali, deixou o conjunto incompleto.

Em 1998, Bassano Vaccarini foi acometido pelo Mal de Alzheimer, mas continuou participando de exposições coletivas em cidades da região. 

Ao falecer, em 7 de abril de 2002, Bassano Vaccarini deixou muitas marcas como escultor, pintor, cineasta, cenógrafo e professor. Esta multiplicidade de atividades revela um artista multifacetado e versátil, que teve que aliar o desejo de criar livremente com a necessidade de sobrevivência, sem, contudo, perder a criatividade e a originalidade. 

Para Dante Velloni, Vaccarini trouxe um “sentido de modernidade” para Ribeirão Preto. Nos anos de 1950, quando o município tinha poucos veículos de informação por onde se pudessem assimilar os movimentos artísticos internacionais, Bassano foi aquele que, juntamente com Domenico Lazzarini, trouxe a influência artística europeia para a capital do café.

ADRIANA SILVA

https://www.youtube.com/watch?v=SFl9OWmH4ds

http://g1.globo.com/sp/ribeirao-preto-franca/videos/t/jornal-da-eptv-1-edicao/v/exposicao-e-lancada-para-comemorar-centenario-de-vaccarini/3553121/

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